Sem nós não há justiça: Cláudia Simões continua condenada
O Tribunal da Relação reverteu parcialmente, no passado dia 30 de Abril, a decisão do Tribunal de Sintra relativa ao caso de violência policial contra Cláudia Simões, condenando o agente da PSP Carlos Canha por ofensas à integridade física agravadas, e os seus colegas Fernando Rodrigues e João Gouveia por abuso de poder. A decisão peca, contudo, por insuficiente, assinala, em carta aberta, o Movimento Negro em Portugal (MNP), lembrando que “Cláudia Simões continua condenada e a ver negado o seu direito de legítima defesa perante as agressões de que foi vítima na paragem de autocarro”. Mais: “Embora o Tribunal da Relação tenha, em certa medida, repreendido o coletivo de juízes presidido por Catarina Pires, esta decisão não comporta quaisquer consequências para uma juíza” que, segundo sabemos, irá também julgar o caso de homicídio de Odair Moniz. “Isto não é justiça”, sublinha o MNP, num posicionamento subscrito por mais de 40 colectivos, e que o Afrolink subscreve e publica na íntegra.
Carta Aberta: Sem nós não há justiça: Cláudia Simões continua condenada
A 30 de abril, o Tribunal da Relação reverteu parcialmente a decisão do Tribunal de Sintra quanto ao caso de violência policial contra Cláudia Simões. Condenou Carlos Canha por ofensas à integridade física agravadas e os seus colegas Fernando Rodrigues e João Gouveia por abuso de poder. Foi, sem dúvida, com muita emoção, mas sem ilusões, que recebemos esta decisão, apesar de tudo histórica.
Se o Tribunal de Sintra fez da vítima culpada e do agressor inocente, reproduzindo, uma vez mais, o racismo institucional no sistema de justiça português, a decisão do Tribunal da Relação acabou apenas por repartir a culpa. Ou seja, embora Carlos Canha e os colegas tenham sido finalmente responsabilizados pelas agressões durante a viagem aterrorizadora no carro da PSP, Cláudia Simões continua condenada e a ver negado o seu direito de legítima defesa perante as agressões de que foi vítima na paragem de autocarro: isto não é justiça. Mais, o racismo continua dado como não provado e os polícias continuam no exercício das suas funções.
Pese embora o Tribunal da Relação tenha, em certa medida, repreendido o coletivo de juízes presidido por Catarina Pires, esta decisão não comporta quaisquer consequências para uma juíza que descredibilizou e humilhou continuamente Cláudia Simões no decorrer das sessões de julgamento. E, como se tudo isto não bastasse, sabemos, por ora, que será a mesma Catarina Pires a julgar o caso de homicídio de Odair Moniz.
Ainda que a decisão do Tribunal da Relação tenha restituído, em parte, a dignidade pública a Cláudia Simões e à sua filha – que tiveram a sua vida esmagada por cinco anos de violência –, o Estado não é capaz de descriminalizar uma mulher negra periférica e de se responsabilizar pela violência racista que inflige. E é por isso que a coragem e persistência de famílias como a de Cláudia Simões e do movimento social são essenciais: construamos solidariedade porque sem nós não há justiça!
Coletivos subscritores
Africandé Associação
Afrolink
Afrontosas
Associação Cavaleiros de São Brás
Associação Cultual Nêga Filmes
Associação Juvenil Esperança
Associação Mural Sonoro
Braga Fora do Armário
BUALA
Coletiva Corpos Insubmissos
Coletivo Afreketê
Coletivo Consciência Negra
Coletivo Feminista de Sintra
Comité de Solidariedade com a Palestina
Comitê Popular de Mulheres em Portugal
Dentuzona
Djass- Associação de Afrodescendentes
Feira Afro Empreededora do Porto
Femafro - Associação de Mulheres Negras, Africanas e Afrodescendentes em Portugal
Grupo de Ação Revolucionária Antifascista
GTO LX
HuBB- Humans Before Borders
Kilombo - Plataforma de Intervenção Anti-Racista
Mbongi 67
MNE - Mulheres Negras Escurecidas
Nomada Notebooks
NOSSA FONTE – Associação de Intervenção e Difusão Cultural
Núcleo Antifascista de Barcelos
OVO PT | Observatório de Violência Obstétrica em Portugal
Panteras Rosa - Frente de Combate à LesBiGayTransfobia
Parents for Peace
Plataforma Geni
Refugees Welcome Portugal (On The Road - Associação Humanitária)
SaMaNe - Saúde das Mães Negras e Racializadas
SOS RACISMO
Stop Despejos
Teatro GRIOT
The Blacker The Berry Project
UNA - União Negra das Artes
Vida Justa
Vozes de Dentro