
“REPARATIONS BABY!” – O CONCURSO-REVOLUÇÃO PARA DESCOLONIZAR A NOSSA TV
“Reparations Baby!” é a mais recente criação de Marco Mendonça que, com um texto tão mordaz quanto perspicaz, coloca o tema das reparações históricas na agenda…quanto mais não seja cultural. Na recta final dos ensaios, o Afrolink conversou com o actor, que, depois de nos ter apresentado a peça “Blackface”, regressa aos arquivos históricos para nos desafiar a reflectir sobre legados de abusos e desigualdades raciais, e a importância do reconhecimento e responsabilização. “Pode ser produtivo saber que a culpa existe, que está de certa forma no ADN da construção do país, e do império”.
EM DESTAQUE
Especialista em negar evidências históricas, Portugal reinventa-se na arte de ver tudo o que houver para ver, desde que não tenha de enxergar o racismo que habita em si. Por isso, depois do aclamado mito do “bom colonizador”, o país oferece-nos a fantasia do “bom racista” – alguém que fala, age e vota como um racista, mas afinal apenas precisa de atenção e de compreensão. As eleições do último domingo, revelaram mais de 1 milhão e 300 mil predadores dessa espécie. E não há nada de bom nisso!
Cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas votaram num partido abertamente racista e xenófobo nas últimas Legislativas, transformando-o na terceira força política em Portugal. Os alarmes deveriam ter soado bem alto, mas, em vez disso, várias vozes se apressaram a absolver o eleitorado racista, justificando as suas escolhas com “zangas”, “ressentimentos” e “descontentamentos”. Como se houvesse contexto capaz de tornar aceitável e até justificável o racismo e a xenofobia. Ou como se as pessoas escolhessem propostas racistas inocentemente e sem intenção. Afinal, garante o primeiro-ministro, em Portugal "o ódio e as questões raciais não têm uma natureza de preocupação”. Facto é que a aparente facilidade com que a extrema-direita mobiliza racistas e xenófobos no país contrasta com a dificuldade que o Grupo de Ação Conjunta contra o Racismo e a Xenofobia (GAC) enfrenta para juntar 20 mil assinaturas em defesa da criminalização do racismo. O Afrolink deixa-lhe com o essencial desta iniciativa do GAC, percorrida a partir dos esclarecimentos dos juristas Anizabela Amaral e Nuno Silva, que integram a campanha.
Amplamente reproduzida em outdoors gigantes, cartazes de várias dimensões, sites e redes sociais, a imagem aqui em destaque tornou-se, no ano passado, uma bandeira de exaltação do 25 de Abril. “Foi muito bem tirada. Olhamos para ela e vemos força, poder, todo o vigor da juventude, da luta, e das pessoas da altura”, legenda Victor Correia que, numa habitual viagem pelo IC19, reconheceu nessa fotografia a sua própria história. O Afrolink foi ouvi-la, e encontrou Marlete Duarte Lopes Correia Henriques e José Carlos Duarte Lopes Correia a abrir caminho para a nossa Democracia e Liberdade. Vamos com e como eles. Colectivamente.
Sem qualquer notificação, em claro incumprimento do que a lei determina, Carol Archangelo e Carlos Orleans, oriundos do Brasil e residentes no distrito de Viseu, depararam-se com a retirada dos filhos, encaminhados, a partir da escola, para uma família de acolhimento. Já em Lisboa, a são-tomense Ana Paula dos Santos viu uma situação de despejo, executada pela Câmara Municipal de Loures, ser usada como arma para a separar dos filhos, incluindo um recém-nascido. Casos como estes repetem-se um pouco por todo o país, revelando um padrão por parte do Estado: de racismo, xenofobia, e criminalização da pobreza. O problema vem sendo denunciado há anos, sem que uma verdadeira mudança ocorra, realidade que a antropóloga Rita Cássia Silva pretende transformar. Para isso propõe, por exemplo, “criar um fundo nacional de apoio às mulheres e crianças, direccionando às famílias os valores financeiros entre 1.100 e 3.300 euros mensais que são destinados aos centros de acolhimento de crianças e jovens (instituições privadas e/ou religiosas)”.
Num “gesto provocador”, conforme o apresenta, a empresária de impacto social, Myriam Taylor, perguntou ao ChatGPT: “Se fosses o diabo, como destruirias a Humanidade?”. A resposta, conta-nos, foi clara: “Através da erosão da empatia, da glorificação do ego, da divisão, da normalização da injustiça, da destruição da confiança e da apatia perante o sofrimento”. Mais do que notar que é “exatamente o caminho que estamos a seguir”, neste artigo de opinião Myriam aponta soluções. “O desafio é claro e urgente: precisamos de resgatar a ideia de coletivo. De voltar a ensinar – em casa, nas escolas, nos media – que a liberdade e a justiça não são bens individuais. Que sem compaixão, sem responsabilidade partilhada, não há sociedade possível”.
Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, pós-graduada em Gestão Financeira e mestranda em Desenvolvimento Global, Eva Cruzeiro, popularizada pelo nome artístico Eva Rapdiva, é candidata a deputada pelo Partido Socialista, ocupando a 8.ª posição na lista do círculo eleitoral de Lisboa. A notícia está a desencadear uma onda de contestação, sobre a qual Myriam Taylor, empresária de impacto social, reflecte neste artigo de opinião.
Nossos serviços
-
Afrolink Business Network
Uma rede exclusivamente direccionada a pessoas africanas, afro-portuguesas, afro-brasileiras e afrodescendentes com negócios.
-
Vidas Negras
Perfis e outras entrevistas com pessoas notáveis e seus percursos, histórias, desafios, e outros pedaços de vida que acompanhamos.
-
O Tal Podcast
Um programa semanal onde cabem todas as vidas, emocionalmente ligadas por experiências de provação e histórias de humanização.
ÚLTIMOS ARTIGOS
A Biblioteca de Alcântara – José Dias Coelho, em Lisboa, recebe, no próximo dia 17 de Junho, das 14h30 às 18h, duas oficinais e um debate para nos pôr a reflectir sobre “como comunicação social molda o que a sociedade considera importante?”.
O TBA – Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, apresenta, nos próximos dias 10 e 11 de Junho, às 19h30 e às 22h, respectivamente, o espectáculo “Musseque”, que “parte de quatro bailarinos que têm em comum o movimento, a resistência e o prazer que se encontram no kuduro”.
O espectáculo performativo “Cabral Corpo”, da autoria da actriz cabo-verdiana Sara Estrela e com produção do Saaraci Coletivo Teatral, estreia-se em Portugal amanhã, 31, no Centro de Artes e Espetáculo de Portalegre (CAEP), seguindo nos dias 7 e 8 de Junho, para o Teatro Ibérico, em Lisboa.
A cantautora Luiana Abrantes oferece-nos um sarau musical, este sábado, 31, das 19h às 22h, no espaço This is Sessions, em Lisboa. Em fase de promoção do seu primeiro álbum, intitulado “Refúgio”, lançado em Setembro passado e, desde o passado dia 10 de Maio com uma nova vida – sob o nome “Refúgio Relaunch” –, a artista será acompanhada pelo moçambicano Elias Kacomanolis na percussão e pelo são-tomense João Santos na guitarra.
O sábado, 31 de Maio, é de festa na Quinta do Alegre, na freguesia de Santa Clara. É aqui que, das 11h às 18h, a Associação de Moradores do PER 11 vai celebrar mais um aniversário. A entrada é livre.
A associação Batoto Yetu realiza amanhã, 31, das 9h30 às 13h, mais uma visita aos “espaços da presença africana” em Oeiras, município onde está sediada. O percurso, que se cumpre a pé e de autocarro, termina com um almoço (das 13h às 14h30), que tem como prato forte a gastronomia africana.